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Fatores estruturais e econômicos, como queda na produtividade de safras e aumento da demanda (causado pela inclusão sócio-econômica), foram as principais causas da inflação dos alimentos e não os biocombustíveis. A opinião é de especialistas participantes da mesa “Alimento vs combustível: Dilema ou Dogma”, realizada nesta quarta-feira no congresso Ethanol Summit, em São Paulo.

“Não há evidência forte do efeito dos biocombustíveis na inflação dos alimentos”, disse Fabian Delcros, chefe da seção para assuntos comerciais da delegação da Comissão Europeia no Brasil.

Delcros baseou a afirmação em estudos e análises desenvolvidos pela União Europeia (UE) sobre o tema. “Provavelmente há alguma participação dos biocombustíveis na inflação dos alimentos, mas não encontramos evidências fortes de que tenham sido significativas”, explicou.

Alexandre Strapasson, diretor do departamento de cana-de-açúcar e agroenergia do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, foi contundente na defesa do biocombustível do País: “O etanol brasileiro não impactou os alimentos”. Segundo o diretor, o aumento na produção de grãos, alimentos agrícolas, carne e leite sustenta a tese.

“A inflação [dos alimentos] esteve mais relacionada ao aumento do PIB e à inclusão econômica de que aos biocombustíveis”, ressaltou Strapasson. China e Índia foram apontadas como os principais mercados que provocaram o aumento da demanda de alimentos. Strapasson destacou que esse aumento “é bom”, porque significa que a população destes países está “deixando a miséria”.

Ismael Perina, presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul (Orplana), defendeu seu setor afirmando que muitas plantações praticam a “rotação de culturas”, como forma de produzir etanol e alimentos. Segundo Perina, é possível alternar o cultivo da cana com o de amendoim e soja. “A prática diminui a incidência de pragas e aumenta a fertilidade do solo.”

Dados apresentados por Strapasson, no entanto, dão conta que apenas 15% das plantações de cana brasileiras praticam a rotação de culturas.

Futuro
Delcros destacou que a UE tem como objetivo integrar pelo menos 10% de biocombustíveis ao seu sistema de transporte até 2020 – atualmente a participação dos biocombustíveis é de 1%. A meta implicaria, segundo previsões da organização, em uma inflação nos alimentos. “Os cereais sofreriam um impacto no preço entre 3% e 6%”, afirmou Delcros. “Sim, haveria impacto, mas não seria tão significativo como os críticos vêm dizendo”, ponderou.

Para observar o impacto na produção de alimentos, a UE irá monitorar “de perto” a evolução do mercado, não só na Europa, mas nos países produtores, de acordo com Delcros. A exigência de certificados é outra forma encontrada pela organização para garantir a sustentabilidade dos biocombustíveis. “Quem quiser exportar para a Europa precisará ter sistemas de certificação de que o etanol é sustentável”, frisou o representante da Comissão Europeia no Brasil.

Transferir tecnologia agrícola para países em desenvolvimento poderia contribuir para a questão de falta de alimentos, segundo Strapasson. O investimento nas aéreas agricultáveis, na análise do representante do Ministério da Agricultura, melhoria a produtividade. “Essas medidas são mais eficientes do que as emergenciais de distribuição de alimentos”, afirmou.

Marina Morena Costa

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